[RESENHA] Piano Mecânico
Olá, leitores!
Páginas: 496 | Autor: Kurt Vonnegut | Editora: Intrínseca | Ano: 2020 | Gênero: Fantasia, Horror e Ficção Científica | Tradução: Daniel Pelizzari | Classificação indicativa: +14
Esse é o terceiro livro do autor que leio e admito que as minhas expectativas de leitura eram das mais altas, principalmente porque o seu livro Café da Manhã dos Campeões se tornou um dos meu favoritos de 2021.
Eu estava esperando muito da leitura que não decepcionou, porém também não superou os outros dois livros. As obras do Kurt Vonnegut não são do tipo que você vai ler, entender e seguir para a próxima em pouco tempo. Apesar da sua narrativa mais simples e direta, seu sarcasmo e deboche escondem muitas críticas que vamos percebendo até depois de finalizar seus livros.
Seus livros costumam trazer temáticas bem "realistas" onde ele usa da hipocrisia da sociedade para criar o desenvolvimento da história. Aqui não foi diferente, afinal, é uma sociedade após a Terceira Guerra Mundial. Uma nova revolução industrial ocorreu e quase toda a mão de obra que antes era humana, foi substituída por máquinas. Ainda existem empregos para pessoas, porém disponibilizam salários medíocres e os melhores disponíveis são deixados para os de uma outra classe.
É o jogo mais fascinante que existe, impedir que as coisas permaneçam como estão.
Por mais que olhando de fora as coisas pareçam estar boas, já que não tem mais fome e apenas máquinas e pessoas de Q.I. superior, como engenheiros (que são os responsáveis por gerenciar as máquinas, então são os mais importantes), estão no comando, isso não passa de uma fachada. Os soldados que fizeram parte da guerra nem ao menos fazem parte da classe superior mesmo tendo feito parte da luta. A inteligência se tornou algo como uma nova moeda então quem não possui um Q.I. mais elevado, acaba por viver à margem da sociedade.
Aqui o protagonista é Paul Proteus. Um homem com uma boa vida e uma carreira que segue em ascensão. Sua vida parece perfeita: jovem de família privilegiada, com uma carreira que tem tudo para ficar ainda melhor e uma esposa maravilhosa. Mas como um bom protagonista do Kurt, não é lá um personagem muito carismático. Não falo isso por ele ter uma moral duvidosa ou algo do tipo, e sim porque ele é apenas um fantoche sem poder algum perante o rumo em que a sociedade está se encaminhando, algo que ele não tinha percebido até se encontrar com Ed Finnerty, um ex-colega de trabalho que vive em uma realidade completamente diferente. Esse encontro abre os olhos de Paul, que percebe o quão cego ele era perante o sistema, principalmente quando atravessa o rio e presencia uma outra realidade escondida e que destoa muito da sua, o contraste entre distopia e utopia, um ao lado do outro.
As máquinas mostraram quem é homem e quem é moleque, vamos dizer assim.
Assim como os seus outros livros que li, a narrativa de Kurt é um dos pontos mais altos da história, principalmente porque a temática em si me lembra a de outras obras, como Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, onde um homem que parecia viver uma vida perfeita abre seus olhos para a falsa realidade perfeita em que vivia após um encontro com alguém.
Kurt é direto, sempre inicia seus livros jogando as cartas na mesa e sendo bem incisivo para chegar ao ponto em que quer. Seus comentários sarcásticos e críticas aqui são mais discretos. Apesar de estarem presentes durante todo o livro, não são mais tão fáceis de notar e admito que senti um pouco a falta disso.
Outro ponto que é importante destacar, é a forma como as mulheres são retratadas aqui. Sei que a obra foi originalmente escrita em 1952 então pode se considerar a época, porém é difícil de ignorar que ali elas possuem apenas uma função que é a de ser esposa e por ser esposa, ela deve ser bonita, magra e perfeita para o seu homem. Na obra inteira, a mulher não aparece em um cargo realmente relevante. Eu realmente espero que isso tenha sido mais uma de suas críticas e não a sua visão sobre as mulheres.
Durante toda sua vida elas tinham ficado escondidas pelas paredes de sua torre de marfim. Mas nessa noite ele tinha convivido com elas, compartilhado suas esperanças e suas desilusões, compreendido seus anseios, descoberto a beleza de sua simplicidade e de seus valores descomplicados. Isso era real...
E o final? Maravilhoso, claro. Com todo o sarcasmo que Kurt sabe destilar, além de ser incrível. Você finaliza o livro tendo realmente aprendido algo, ainda mais quando paramos para comparar a sociedade do livro com a nossa. Senti que aqui o autor acabou deixando alguns ideais dele atrapalharem um pouco o desenvolvimento de tudo, o que afetou a leitura, mas que ao menos seu desfecho foi bem digno.
No geral, apesar dessa história ser a menos cativante das que li do autor, Piano Mecânico ainda é uma boa pedida para os fãs dos livros de Vonnegut. É uma pena que a história não tenha me cativado tanto. As características do autor estão presentes mas faltou um "tempero", sabe? Esse foi o primeiro romance do autor, então posso entender a razão dele não ter sido tão bom quanto os outros.
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Olá,
ResponderExcluirAdoro autores que usam um tom mais sarcástico na narrativa.
Acho que li sua resenha do outro livro e curti, também fiquei interessada nesse - apesar de não ter empolgado tanto.
até mais,
Canto Cultzíneo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Larissa. Tudo bem? Embora este livro não tenha sido tão bom para você, me parece ser um bom livro para ler, principalmente pela época em que foi escrito. Sua resenha está órima. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/?m=1
Oie
ResponderExcluirEu ainda não li nada do Kurt , apesar de ter vontade de ler "Matadouro cinco"
Só que ele parece ser um autor meio controverso.Tem gente que ama , tem gente que não...
Um dia eu vou ter que ler para formar minha propia opinião.
Gostei da sua resenha e de ter semelhanças com "Fahreneheit" .
Vou dar uma espiada no "Café da manhã dos campeões " que se tornou o seu favorito.
Beijos
https://mundinhoquaseperfeito.blogspot.com