[RESENHA] Coração das Trevas

Olá, leitores!

Páginas: 176 | Autor: Joseph Conrad | Editora: Darkside | Gênero: Ficção, Suspense, Mistério, Terror | Tradução: Paulo Raviere | Classificação indicativa: +16

Por mais que seja considerado um clássico literário que inspirou um dos mais famosos filmes de guerra chamado Apocalypse Now (1979), admito que até o momento em que ele chegou em minhas mãos, nunca tinha ouvido falar desse livro, tanto que ao ver a capa e o título, imaginei que fosse algo relacionado a um terror mais sobrenatural, o que não é o caso. Em Coração das Trevas, obra lançada pela primeira vez em meados de 1900, o assustador aqui vem da realidade da guerra que na obra se relaciona com a colonização da África.

'Aquele animal tem uma vida encantada', afirmou; 'mas nesta região você só pode falar isso dos animais selvagens. Nenhum homem — compreende? — nenhum homem aqui tem a vida encantada.'

É um livro pequeno, de menos de 200 páginas mas de leitura extremamente difícil e isso não se deve ao fato de livros sobre tal tema não serem os meus favoritos e sim porque as descrições extremamente racistas sobre a população africana são nauseantes, principalmente com aquele olhar europeu que narra a trama. A obra se apresenta com uma narrativa dentro da outra, feita pelo protagonista Charles Marlow que conta aos seus companheiros o que o levou ao posto de capitão e sobre ir em busca de um homem odiosamente misterioso, conhecido como Kurtz. 

Era muito simples e, ao fim daquele comovente apelo a cada sentimento altruísta, ele queimava dentro de nós, luminoso e aterrador, com um raio de trovão num céu sereno: 'Exterminar todos os selvagens!'

Gosto muito de narrativas nesse estilo por não serem confiáveis, já que costumam me deixar ainda mais presa na leitura ao tentar entender o que realmente aconteceu ali, principalmente quando o narrador não me passa confiança, como é o caso de Marlow, que parece não saber expressar com palavras a sua experiência em terras africanas e por consequência, pode deixar a leitura um pouco confusa.

Apesar de ser uma leitura bem incômoda, tentei levar em conta a época em que foi escrita, principalmente porque já aconteceu de outras obras me causar bastante incômodo devido a posicionamentos extremamente datados, como aconteceu em uma leitura recente para a faculdade do livro O Cortiço, onde os personagens eram bastante clichês, o que não mudou o fato do livro ter se tornado uma obra clássica do Naturalismo e leitura obrigatória na faculdade e em cursinhos. Tendo isso em mente, Coração das Trevas acaba adquirindo um caráter crítico sobre o olhar branco e europeu com relação aos povos africanos e em como os mesmos eram vistos como "selvagens" e menos civilizados e sua cultura era desprezada pelos colonizadores.

Os meios utilizados são justificados pelos lucros obtidos. Kurtz seduz a população local, tornando-se um líder místico, adorado como um deus. Está, de fato, louco; mas um louco lucrativo e, por isso, elogiado, estimado, tido como exemplo. Mas paradoxalmente, é um exemplo que não pode ser mostrado por inteiro a todos, pois macularia a imagem angelical das missões supostamente humanitárias da África.

Assim que pisou nas terras do Congo, Marlow encontra pessoas extremamente magras, chegando a se indagar se eram realmente seres humanos ali já que pareciam apenas pele e osso. As descrições sem filtro são impactantes para o leitor, já que o narrador diz exatamente o que vê ali, com a sua mentalidade de quem acha que está ali para auxiliar o governo a fazer o que era certo. A obra é uma aventura marítima, então traz vários momentos de Marlow atrás de Kurtz a fim de conhecer mais sobre o homem que alcançou o sucesso que tanto almejava, onde nesse trajeto, passa por momentos clássicos de livros de aventura, como fugas frenéticas, ataques de povos locais e cenários confusos. 

Consegui entender a razão da obra ser um clássico literário devido a sua crueza de palavras e pelo seu peso histórico mas isso não a torna uma leitura mais fácil já que mostra um dos piores lados da humanidade, aquele banhado em ganância e exploração sob o pretexto de um progresso humanitário que não chega, causando muito sofrimento para os mais fracos. É um livro sobre o pior lado da natureza humana. É uma leitura válida mas que precisa de estômago e paciência para ser lido.

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