[RESENHA] A Guerra da Papoula [livro #1]

Olá, leitores!

Páginas: 512 | Autora: R. F. Kuang | Editora: Intrínseca | Ano: 2022 | Gênero: Fantasia | Tradução: Ulisses Teixeira | Classificação indicativa: +18

Se havia uma coisa que Rin aprendera sobre a história de seu país era que a única coisa permanente no Império Nikara era a guerra.

A Guerra da Papoula me deixou com grandes expectativas antes mesmo de chegar, mas eu não estava preparada para o quanto essa leitura foi difícil e intensa. O livro, apesar de ser uma ficção, é baseado na Segunda Guerra Sino-Japonesa, com detalhes que podem ser facilmente identificados nas descrições.

Esse é um livro que inicia-se com a história pacata de Rin, uma órfã de guerra, que ao se ver possivelmente presa em um casamento que não quer, encontra uma saída estudando para um difícil exame, levando-a para uma universidade na capital que poderá lhe apresentar muito mais do que imaginava, e abrir portas que não sabia que poderiam ser abertas.

Em sua trajetória, Rin tem difíceis adaptações, poucos amigos e decisões difíceis, mas encontra algo sobre si mesma na universidade, e uma ajuda que pode dar esclarecimentos. Muitas das primeiras páginas são de Rin como estudante, mas os desafios não deixam de ser decisivos, nem a narrativa perde o impacto chamativo. É possível que você se conecte com o livro exatamente pelas primeiras páginas mostrarem a personagem em sua luta por uma vida onde pode ter suas próprias escolhas, com uma determinação de ferro.

A guerra não determina quem tem razão. Ela determina quem sobrevive.

O cenário, em paralelo com o de Rin, mostra um país instável, recém saído da Segunda Guerra da Papoula com grandes consequências. Se há possibilidade ou não de novos conflitos, é algo desconhecido, mas esse é outro destaque interessante. A história dos conflitos ao longo dos anos é contada, atraindo bem a atenção do leitor para uma ótima construção de narrativa, e de um cenário sócio-político. É fascinante acompanhar como o país chegou ao que é atualmente, as escolhas difíceis que tiveram de fazer, também igualmente cruéis, foi o que me cativou para entender melhor os possíveis conflitos futuros.

A narrativa focada em Rin, inevitavelmente faz o leitor simpatizar com a personagem. Ela não é uma pessoa difícil de gostar, pelo contrário, com tudo e todos parecendo ir contra ela, torcer se torna fácil. Ela ainda é jovem quando o enredo se torna mais sombrio e suas escolhas também se tornam mais difíceis. Não há uma preparação para o que está por vir, e nem sei se poderíamos estar preparados para o impacto de acontecimentos.

A Guerra da Papoula é um livro visceral, por mais fascinante que seja, ele corrói o estômago de quem está lendo com descrições fortes e destinos impiedosos dos personagens. A trama possui um desespero ainda maior, uma espécie de apelo a cada página, algo que não resta nada para o leitor fazer a não ser se desesperar junto. Embora seja tudo isso, garanto que é um livro empolgante, que cativa do mesmo modo que choca.

Há uma variedade de personagens, e meu medo era que na medida que aparecesse mais deles para me apegar, mais provável seria meu sofrimento se tudo acabasse mal. Também temi por Rin, que teve escolhas nada prudentes, conflitantes, mas sem alternativas para outras opções. A trama força os personagens a agir impulsivamente, movidos pela raiva.

O conjunto de ações podem dar uma ideia do que acontece nas páginas finais, mas isso só corrobora que não há muita escapatória para as decisões desesperadas. Não tenho muitas esperanças de cenários diferentes para os próximos livros, nem sei como um enredo poderia ser mudado a ponto de transmitir algo menos denso do que vemos aqui, mas é certo que deixa muitas perguntas e um desejo de saber mais.

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