[RESENHA] O Pescador

Olá, leitores!

Páginas: 320 | Autor: John Langan | Editora: DarksideBooks | Ano: 2022 | Gênero: Ficção, Terror, Horror Cósmico | Classificação indicativa: +14

Tive o prazer de ler duas ótimas obras de horror cósmico esse último mês e essa foi uma delas. Fazia um bom tempo que não lia nada do gênero e por isso foi como matar a saudade de um gênero que tanto amo, por mais bizarro que ele possa ser. Tenho que começar essa resenha falando dessa capa incrível que só de olhar já me lembrou de Lovecraft e suas terríveis criaturas. Aqui temos aquele estilo de narrativa mais lenta, algo comum nas obras de horror cósmico, onde todo o clima e ambientação da trama é construído aos poucos. 

Um pouco de riso pode ser a ponte que lhe permite atravessar um mau momento, acredite em mim.

O interessante é que o livro traz uma história dentro de outra história. Começamos a obra com a narrativa de Abe, um homem de meia idade que apesar do tempo passado, ainda está aprendendo a lidar com o luto por ter perdido a esposa que tanto amava, tentando encontrar uma forma de lidar com a depressão que junto as bebidas, tem aos poucos o consumido. É nessa busca por uma forma de lidar com a sua dor, que encontra na pescaria um refúgio de paz que se transforma em uma rotina terapêutica. Quando o seu jovem colega de trabalho Dan sofre um acidente de carro que ceifa a vida de sua esposa e a de seus filhos gêmeos, Abe se solidariza com a dor do colega, já que ambos perderam pessoas amadas. Vendo como o luto e a perda mudou a vida de Dan, que antes fora um rapaz animado e sorridente, Abe o convida para acompanhá-lo em suas viagens de pesca e ele surpreendentemente aceita.

Longe dos olhos, longe do coração, simples assim. É difícil se apegar por muito tempo a tragédias que não são nossas.

É bem legal ver a empatia de Abe com relação a Dan e a forma como os dois lidaram com suas perdas já que apesar de inicialmente terem deixado que a dor tomasse conta, Abe aos poucos conseguiu se reerguer e seguiu a vida mesmo que de forma solitária. Já Dan, continuou sendo aos poucos engolido pela falta que sentia de sua família e tomando decisões que o prejudicariam a longo prazo, como se não se importasse mais com o futuro.

Pensei a mesma coisa na primeira vez que eu... pensei a mesma coisa uma vez. Achei que podia sentir minha sanidade indo embora como a água que escorre quando você tenta segurá-la com as mãos. Mas eu não estava louco. Não estava, e você não está. Isso não faz de todo o resto uma mentira. Complica tudo, sim, mas não é uma mentira. Entende?

Após várias viagens de pesca juntos, Dan de repente sugere irem ao Dutchman's Creek, um rio desconhecido que ele "misteriosamente" descobriu em suas leituras. Apesar do comportamento suspeito de Dan, os dois seguem para o seu destino. É quando estão próximos do local que a outra narrativa começa, tomando a maior parte do livro. Essa história volta no tempo para contar a história da construção de uma represa, criada a partir de uma inundação, que também acabou por criar o Dutchman's Creek. Os operários do local presenciaram coisas estranhas como mortos voltando à vida e criaturas assustadoras sendo controladas por um homem estranho, e um imenso ser misterioso atrás de liberdade.

O que auqelas pessoas diriam se soubessem o que realmente aconteceu com Ângelo, eu não sei. Provavelmente, não acreditariam. Elas se recusariam a acreditar. Talvez tratassem a história como uma brincadeira elaborada, a mais longa das anedotas. Talvez ficassem bravas, como as pessoas ficam, às vezes, quando se veem diante do fabuloso, do fantástico como se ficassem aborrecidas com o universo por jogar tudo em cima delas.

A narrativa do autor é fluída, clara e sem muitos floreios. John Logan narra os fatos sem pressa e soube construir um ambiente narrativo com muito mistério onde não sabemos o que está por vir. Achei que as pontas foram bem fechadas e o final satisfatório. Admito que não é o tipo de leitura incrível e inesquecível, mas é um prato cheio para fãs de horror cósmico que anseiam por uma leitura assustadora de tirar o fôlego onde o assustador está, em sua maioria, na mente das pessoas. 

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