[RESENHA] No Coração da Bruxa

Olá, leitores!

Páginas: 336 | Autora: Genevieve Gornichec | Editora: DarksideBooks | Ano: 2022 | Gênero: Fantasia, mitologia | Tradução: Fernanda Castro | Classificação indicativa: +16

A mitologia nórdica é fascinante, mas nunca busquei muitos livros para ler sobre o assunto. Geralmente consumo conteúdo pop, e uma vez ou outra li aqui e ali sobre os personagens mais marcantes. O que ainda não conhecia sobre a mitologia, o que era bastante coisa, era principalmente sobre nomes que aparecem de maneira secundária, mesmo tendo papéis importantes.

Angrboda é um desses nomes, ela é uma giganta da mitologia nórdica, que teve filhos com Loki, e algumas histórias variam sobre seu papel nela. Em No Coração da Bruxa, a protagonista se trata de Angrboda, cujo dom despertou a curiosidade de deuses, especialmente de Odin. Ao ser morta de várias formas, ter seu coração arrancado, ela resistiu e ainda vive, agora reclusa em um bosque. Ela é denominada como uma bruxa, assim como gigante. Angrboda pretende viver reclusa e longe dos olhos dos deuses, mas seu papel pode ser importante demais para ser ignorado.

Logo que chega no bosque, a bruxa é encontrada por Loki, que fica genuinamente curioso e está de posse de seu coração. O que acontece a seguir é curioso, mesmo estando do lado dos deuses, Loki entrega novamente o coração para a bruxa, contrariando a conduta como se espera de um deus. É aí que começa a relação de ambos, e Loki já apresenta suas costumeiras características de fazer as coisas como bem entender.

A interação entre ambos é desconhecida para os deuses, e o livro é narrado sob o ponto de vista de Angrboda, portanto a visão é somente do bosque e de tudo que acontece ao seu redor. O contato com outros seres é bastante limitado, e sua vida é precária devido a sua decisão de reclusão. Ela, na verdade, é uma criatura simples, que apesar de carregar um grande fardo que assombra os deuses, suas visões, tudo que busca é a paz. Isso pode ser comprometido com a constância com que Loki aparece em sua caverna, a proximidade gradual de ambos, e o resultado de tudo isso.

Os pontos críticos do livro aparecem logo na sinopse, quando apresenta uma urgência de Angrboda em proteger os filhos, suas visões do Ragnarok, e toda a ameaça que gira em torno dos deuses em desvendar isso. O mais importante, porém, é como Angrboda, sendo uma personagem que por vezes aparece em segundo plano, tem ligação tão direta com tudo o que pode acontecer. A sua visão como narrativa foi um excelente ponto de partida para alavancar a história.

Não é somente um livro sobre o acontecimento mais importante da mitologia nórdica. Ele constrói também a história de uma mulher que tem sua vida arrancada diversas vezes pelos deuses, sofre de injustiça, e luta pelos filhos de maneira feroz. É interessante ver os personagens famosos entrar na trama e serem parte dessa história. Loki foi um personagem que ansiei para ver por muitas vezes, até sentir tanta raiva dele que não suportava saber que ainda estava por ali. O livro desperta sentimentos diversos, provando que mesmo sendo uma história que muitos conhecem, possui sensibilidade e genialidade pela forma como é escrita.

A história é tão boa quanto emocionante. Não tem uma narrativa difícil de acompanhar, pelo contrário. Também é envolvente de outras formas, como pela inclusão de personagens LGBTQ+, que já haviam sido discutidos na ficção como tais, e aqui no enredo são bem colocados. Também há romance entre esses personagens, mas preciso avisar que os momentos felizes não são tantos.

A intensidade da leitura me fez gostar tanto do livro que se tornou um dos meus favoritos. Recomendo tanto para quem gosta do assunto, quanto para quem quer ler mais e conhecer a mitologia. A narrativa é construída com muita informação das histórias originais, personagens, acontecimentos marcantes, mas também possui bastante coisa original da autora. É uma leitura que vale a pena, e se torna inesquecível.

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