[RESENHA] Além da porta sussurrante

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Além da porta sussurrante

Além da porta sussurrante é do mesmo autor de A Casa no Mar de Cerúleo, um dos melhores livros que li em 2022. A partir do momento que conheci a escrita do autor, qualquer uma de suas obras anunciadas por aqui já me deixam animadas para ler, como aconteceu com esta.

Wallace é um advogado que se dedica 100% ao trabalho, negligenciando qualquer outra parte de sua vida, descartando-as como irrelevantes. Ele morre inesperadamente de ataque cardíaco logo no começo dessa história, sendo esse o pontapé inicial para tudo o que está por vir. Ao acordar no seu funeral, ele é levado por Mei, uma Ceifadora, para a casa de chá de Hugo, o barqueiro que irá ajudá-lo a entender esse processo pós-morte.

É bem inusitado termos um protagonista fantasma, mas é isso o que acontece. O livro vai narrar a história de Wallace se ajustando em ser um fantasma. Ele será ajudado por Hugo até finalmente estar preparado para passar pela Porta. Ninguém sabe o que o espera do outro lado, mas é um estágio sucessor que ele terá que enfrentar em algum momento.

Vivemos e respiramos. Morremos e ainda sentimos vontade de respirar. Nem sempre as mortes são grandiosas também. Há mortes pequenas, porque o luto é isso.

Essa é uma história sobre morte e luto, que fala sobre um momento da vida que não sabemos como será, que gera apreensão só de imaginarmos, mas a história transmite momentos confortáveis ao nos presentear uma narrativa delicada sobre o assunto. Wallace é um protagonista detestável no início. Ele não foi uma pessoa boa, e enfrenta isso como um choque. Enquanto estava vivo, era alheio ao que dizia para as pessoas e como tais comentários eram recebidos. Na sua estadia na casa de chá, ele enfrenta tais escolhas, e na medida que uma mudança surge no personagem, o peso do que já foi vai se assentando, levando-o a refletir.

Assim como para Wallace é difícil aceitar sua morte, o leitor se sente igualmente tenso. O desenvolvimento dele é incrível, e passei a gostar do personagem de maneira que não havia previsto. O ambiente da história transmite sentimentos bons. Hugo adora chá, e em seu estabelecimento transborda simpatia. Ele também é um personagem empático, que lida com seu trabalho da melhor maneira que consegue.

Os outros personagens engrandecem a narrativa adicionando pitadas de humor e conversas importantes. Nunca havia lido um livro que falasse tão profundamente sobre morte, especificamente sobre depois dela, de modo tão leve. Mas T. J. Klune não decepciona. O que conhecemos na história são personagens incríveis e uma trama importante. O livro não tem um momento único como crítico, mas é regado por pequenas lutas e vitórias que contribuem para o resultado final dessa história.

Porque é a sua vida - afirmou Nelson, vindo para o outro lado dele. - É o que você faz dela. Não, nem sempre é justa. Não, nem sempre é boa. Ela queima e despedaça você, e há momentos em que ela tritura você tanto que nem dá para te reconhecer.

Passei pelas páginas tendo sentimentos que foram, respectivamente: raiva do protagonista, tristeza pela sua situação, conforto pelo cenário, apreensão pelo que teria de enfrentar, alegria por torcer pelos personagens, apreensão novamente pela impossibilidade. Os últimos sentimentos foram graças a sensação de não ter como dar certo. Com a convivência dos personagens, Wallace e Hugo se aproximam, e desde o início, Wallace tinha certo interesse por Hugo. Mas o que barra essa possibilidade de romance, é por um deles estar morto. Então, como não sofrer?

O rumo final da história dá mais apreensão do que senti envolvendo os outros momentos, mas vale a pena. O livro é, e não vou parar de repetir, lindíssimo em todos os sentidos. Meu coração fica quentinho só de imaginar novamente revisitar essa história e acompanhar tantos personagens incríveis. Essa é uma leitura que carrega um tema difícil, mas passa sentimentos puros, com lições incríveis. Agora me sinto devidamente acostumada em favoritar os livros do autor e estou pronta para conhecer mais de suas histórias.