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[RESENHA] Sina


Olá, leitores!

Páginas: 224 | Autor: Márcio Benjamin | Editora: DarksideBooks | Ano: 2022 | Gênero: Terror, Suspense, Mistério | Classificação indicativa: +18

Diz que pra pessoa começar a contar uma história, é do começo.


Adoro quando inicio uma leitura sem saber muito do que me espera. Nunca havia tido contato com escritos do autor Márcio Benjamin e não tinha muita ideia da premissa da obra quando iniciei a leitura, então foi uma grata surpresa. Sou uma capixaba com família de raízes muito nordestinas, mais precisamente das terras de Arapiraca em Alagoas, por conta disso, essa leitura com tantas figuras populares no imaginário do nordeste me aqueceu o coração por me permitir relembrar alguns causos e contos da juventude contados pelo meu falecido avô quando eu era criança. 

Abriu o cantil e sacudiu em cima da boca, quase torcendo em busca de um último gole d'água.
Vazio.
Suspirou fundo, esfregou sem sentir a garrafa se lembrando de uma das histórias do seu avô. Aquela que falava do homem que encontrava no deserto uma lâmpada mágica.
Deserto era como, será? Decerto parecido com aquela ruma de areia e pedra, mas era certeza que lhe faltava o mato firme, espinhento, decidido igual a menino ruim, que bastava uma chuvinha que fosse, renascia verde. 
Igual a ele. Quase igual.
Será?


Aqui em Sina, temos Zé Trancoso que é um típico contador de histórias. Quando a sua caminhonete quebra, ele resolve pedir ajuda a um pequeno grupo de senhoras aparentemente cegas que estavam próximas, contando-lhes algumas histórias para que ele pudesse entrar na cidade sem grandes dificuldades. O que Zé Trancoso não imaginava era que tais senhoras, ao contrário de suas aparências frágeis, eram muito poderosas. Quando finalmente adentra a cidade, seu passado começa a persegui-lo enquanto ele tenta encontrar uma forma de sair daquele lugar. 

Márcio Benjamin é incrível em cada linha que escreveu. Aqui a sina presente no Sertão nordestino é assustadora. O autor usou de personagens conhecidos no popular do nordeste e em nosso folclore, como o contador de histórias, artistas de circo mambembe, lobisomens, o menino com redemoinho nos cabelos, a velha rezadeira, o "caba macho", dentre vários outros. Sua escrita é rica, profunda e de arrepiar. 


São noites assim, de céu aberto, pouca estrela e muito silêncio, que fazem a gente parar pra pensar em um monte de coisas. Principalmente na força que têm as nossas lembranças, no jeito que elas puxam a cadeira na cabeça da gente e sentam, sem ir embora, às vezes ficando até depois que o dia nasce.
Quando tá tudo tão parado que dá vontade de ver coisas que a gente não tá vendo, quando sombra vira alma e as árvores do meio da rua se ajuntam todas, como se tivessem escondendo alguma coisa, é justamente nessa hora, que essas lembranças escolhem pra aparecer.


A obra é dividida em pequenas partes que se assemelham a contos curtos. A cada um deles acabamos por conhecer um pouco mais do personagem do e sua trajetória. Para quem cresceu escutando histórias antigas do nordeste ou se interessa por nossas lendas, é fácil acabar reconhecendo algumas das figuras presentes nas narrativas de Trancoso.

Sina é um livro de folk horror  incrível que me surpreendeu incrivelmente, conseguindo unir com maestria o terror brasileiro, suas lendas, o Sertão nordestino e críticas bastante atuais à nossa sociedade, principalmente ao poder de influência que a religião tem para com a população, e como isso pode ser perigoso para a vida e o bem-estar de quem busca apenas um apoio e esperança. 

Nas paisagens daquele sertão, só o mandacaru verdejava, firme, prevendo a desgraça que se avizinhava.


A narrativa imagética com aquele vocabulário bastante popular é incrível e bem fiel. Quase fui capaz de escutar a voz de Trancoso narrando suas histórias enquanto lia. Ao longo das páginas, ilustrações enriquecem tudo ainda mais, elas são do Shiko e uma é mais incrível do que a outra.

De longe, Sina foi uma das minhas leituras favoritas de 2023 até o então momento. Espero ter em breve a oportunidade de conhecer mais do trabalho do autor, já que fui completamente conquistada.


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6 comentários:

  1. Que edição linda! pra variar né?

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  2. Ola,
    Adorei essa ideia de folk-horror. Não conhecia o livro, mas fiquei bem curiosa - ainda mais por ser nacional.
    Fora que a edição está linda.

    até mais,
    Canto Cultzíneo

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    Respostas
    1. o gênero também me mantêm curiosa, que bom que ficou interessada

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  3. Oi Leyanne, ainda não conhecia o autor. Entendo perfeitamente essa sua identificação com a história quando se passa num lugar que a gente traz no coração. Eu sou mineira e vibro quando ouço ou leio histórias aqui do interior. Achei a trama interessante e o tanto que você gostou da história me deixou bastante curiosa para conhecer.

    Até breve;
    Helaina (Escritora || Blogueira)
    https://hipercriativa.blogspot.com

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    Respostas
    1. que bom que gostou. quando a gente passa a se identificar, se torna mais especial

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