[RESENHA] Um Dia de Céu Noturno

Olá, leitores!

Páginas: 679 e 608 | Autora: Samantha Shannon | Editora: Plataforma 21 | Ano: 2023 | Gênero: Fantasia | Tradução: Alexandre Boide | Classificação indicativa: +16

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O Priorado da Laranjeira

Um Dia de Céu Noturno é uma história do mesmo universo de O Priorado da Laranjeira, mas é contada séculos antes. Embora compartilhem o mesmo universo, podem ser lidos separadamente. Aqui no Brasil a história foi dividida em dois tomos por ser enorme, e a editora optou por separá-la. Mas originalmente é uma história em volume único assim como O Priorado da Laranjeira.

A maravilha das histórias é que ela é contada durante um período bastante importante e frequentemente mencionado em O Priorado da Laranjeira. Esse período se chama a Era da Amargura, que foi onde várias nações passaram por dificuldades, e a ameaça do retorno do Inominável causou medo. 500 anos haviam se passado desde que Cleolind tinha aprisionado ameaça, e desde então o Priorado manteve guerreiras e a Laranjeira para se prepararem para esse retorno. Enquanto no reinado de Inys, a sucessão de rainhas continuava porque o Santo  determinou que enquanto suas herdeiras estivessem no trono, o Inominável não retornaria.

É interessante para quem começar essa história ler O Priorado da Laranjeira, porque lá a autora introduz bem como o universo funciona e as informações são postas de maneira gradual. Quem iniciar nesse universo diretamente por Um Dia de Céu Noturno, vai conseguir entender perfeitamente como a história está se encaminhando, porém não vai sentir a mesma familiaridade das referências que foram mencionadas no outro livro, e algumas informações achei rápidas demais, porque acredito que a autora confiou que seus leitores já estariam por dentro do universo.

Mas embora a Era da Amargura tenha sido bastante mencionada em O Priorado da Laranjeira, os detalhes são nebulosos. Tanto que no glossário, e na linha do tempo, quando vamos investigar nomes e datas, as datas se detém de quando o Inominável foi derrotado até 500 anos depois, e após uma pausa, a linha do tempo continua nos últimos anos até o nascimento da rainha Sabran IX e outros personagens da história mais atual. Isso faz com que surja bastante curiosidade sobre esse período, e a leitura se torne ainda mais instigante.

A estrutura deste livro continua a mesma, a autora conta várias histórias, e acompanha personagens que estão espalhados ao longo desse universo. As narrações são no leste, oeste, sul, e brevemente no norte. Os personagens estão espalhados porque cada um tem sua própria cultura e vivem em lugares diferentes, com religiões diferentes, tanto que, quando comparadas, são totalmente opostas. Suas crenças também foram modificadas ao longo dos séculos. Estamos falando de reinos que sofreram impactos distintos, estão mais próximos de quando o Inominável estava caminhando sobre a terra. Aqui, os dragões da água estão adormecidos, portanto algumas informações que já conhecíamos em O Priorado da Laranjeira estão apenas no início.

Em relação a detalhes, a autora não falha em absolutamente nada. Uma coisa que tinha curiosidade de saber mais a fundo era como funcionava o Priorado por dentro. Em Um Dia de Céu Noturno, temos personagens que estão dentro do Priorado e compartilham como é a vivência, a preparação, a hierarquia, e outros fatores que são fundamentais para o funcionamento da ordem. Claro que as principais informações sobre ele foram compartilhados em O Priorado da Laranjeira, mas como a protagonista do outro livro estava inicialmente na corte de Sabran IX, ela não passa muito tempo onde foi criada, e as informações neste livro sobre a ordem são mais completas.

No primeiro volume não há nenhum sinal de retorno dos grandes inimigos. O início é lento, é mais para conhecermos os personagens, que são vários. O protagonismo é dividido entre Glorian, do Oeste; Tunuva, do Sul; Dumai, do Leste; Wulf, do Norte. As coisas entre eles demoram bastante para nos dar um panorama de que vão trabalhar juntos, as ameaças são construídas com cuidado, e a vida dos personagens é cuidadosamente entrelaçada entre os acontecimentos principais. Gostei de alguns personagens mais do que de outros, mas é inegável como todos são bem construídos. Também tem bastante representatividade LGBTQ+.

É incrível como neste livro, ao acompanharmos de perto o legado das Berethnet, é ainda mais difícil de tragar que o Inominável é preso enquanto houver rainhas com o sangue do Santo no trono. Isso é ainda mais cruel pela protagonista ser extremamente jovem, e o reino estar à beira de uma guerra com wyverns. Mesmo sendo algo difícil, o legado persiste por séculos e o momento obriga a protagonista a tomar medidas conforme ela foi ensinada até o momento. Por um lado é bastante triste ver isso, e notar a luta de Glorian para ter domínio sobre o próprio corpo. Algumas dúvidas a respeito desse ponto no rainhado são levantadas, mas nada concreto.

A segunda parte dessa história é bastante caótica, tendo mais ação, alguns protagonistas tendo alguma conexão,  bastante lutas, e decisões angustiantes. Ainda não chega ser o embate final, que acontece em O Priorado da Laranjeira, mas aqui temos batalhas que irá desfazer reinos e os moldar de formas imagináveis. Isso abalará tanto os personagens quanto tudo o que acreditam até o momento.

O que eu queria mesmo era ver a conexão entre os personagens, isso é feito de forma sutil, focando principalmente na região em que moram. Gostei da escolha da autora em manter muitos protagonistas, porque é um universo bem grande e bastante vasto, então eu ficaria curiosa em conhecer sobre esses lugares se não fossem mencionados. Mas os protagonistas conseguem dar uma visão clara do que está acontecendo, e como cada ponto se conecta.

Fui familiarizada no universo da autora antes mesmo de começar esse livro, mas ainda assim fiquei surpresa com a quantidade de pessoas LGBTQ+ presentes na história. Isso é importantíssimo, e adorei como tudo é sutil e não há estranheza na orientação sexual deles. Também há representatividade assexual, com um personagem forte e que me emocionou. Acredito que depois de terminar essa obra, ainda consigo imaginar que a autora possa criar mais outras histórias do mesmo universo, explorando mais à frente, com novos personagens. Já disse anteriormente, mas gosto de frisar que esse é o mundo em que há bastante o que explorar.

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