[RESENHA] HQ Veneno: Anjo de Bremen

Olá, leitores!

Páginas: 208 | Autores: Peer Meter & Barbara Yelin | Editora: DarksideBooks | Ano: 2022 | Gênero: true crime, HQ, ficção histórica | Tradução: Rebecca Paola Gerndt | Classificação indicativa: +18

Veneno é uma graphic novel que causa revolta. Em um primeiro momento pensei se tratar de uma história forte, mas além disso, é um relato real envolto em uma narrativa ficcional. Isso me deixou mais instigada a ler, porque sabia que o que encontraria poderia ser ainda mais cruel pelo fato de já ter acontecido.

Na história, uma escritora relembra, ao passar por Bremen, como mesmo após décadas, a memória do que presenciou lá abalou-a. Ao chegar na cidade para fazer um trabalho, ela logo recebe a notícia de que uma mulher está prestes a ser executada. Os crimes de Gesche são hediondos, classificando-a como uma serial killer por envenenar compulsivamente amigos e conhecidos, matando até mesmo seus filhos.

Para uma cidade pequena na Alemanha no século XIX, isso causou bastante agitação, ainda mais pela assassina aparentar ter uma aparência frágil. A protagonista começa a saber mais sobre seus crimes e isso a choca, mas outros aspectos também lhe atormentam, como as autoridades da cidade serem negligentes em lidar com Gesche, fechando os olhos para aspectos que já aconteciam há tempos, mas sem nenhuma ação por parte deles. A assassina está presa enquanto espera sua execução em praça pública. Não temos muitos vislumbres dela, o livro ronda mais os pontos acerca de como estão manejando a situação, e sob um olhar atento, o descuido é chocante.

A escritora em questão acaba desviando o foco de seu trabalho por ficar envolvida com a situação. O livro é um relato de uma espectadora que está sentindo que precisa fazer algo, mas não sabe o quê. Ela sabe que a serial killer foi desumana, mas seus pensamentos são bastante clínicos ao reconhecer que as pessoas ao seu redor foram dispersas lidando com a situação, tratando a acusada com meios errantes, desconsiderando que ela poderia ter um distúrbio como psicopatia.

Pelo contexto da época, era fácil se chocar ao ver uma mulher ser acusada de crimes tão sérios, mas o rumo dos fatos torna vantajoso aproveitar a situação para levar a religião como um ponto decisivo, assim como culpar a "natureza pecaminosa" de uma mulher para ser suscetível a tais condutas. A protagonista vai notando como todo o cenário foi composto, e como a sociedade aceita facilmente que a execução seja rotineira. Ela é uma expectadora atenta, com ideias consideradas irreais para a época, e isso lhe custa caro ao ser repreendida pelo sexo que tem e por estar desacompanhada.

O livro vai ganhando urgência com a chegada do momento da execução, e o lugar acaba afetando-a negativamente por diversos aspectos. Terminei a história com uma sensação ruim, porque é assim que tem que ser. Os traços dos desenhos são monocromáticos, com linhas grossas e sombreadas. Isso corrobora para o clima sombrio da história. É doloroso pensar que esse é um relato real, e gostei da escolha em descrever os acontecimentos de maneira distante, sem a ficção interferir diretamente com o que foi real.

No final da edição há mais algumas explicações sobre os fatos que dão um contexto mais nítido na história. O conjunto da obra causa reflexão pelas possibilidades de como poderia ter sido conduzido os acontecimentos, e isso permanece até hoje, apesar de já terem se passado séculos.

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