[RESENHA] Realeza das Bruxas: A irmandade secreta de Sua Majestade [livro #1]
Olá, leitores!
Páginas: 432 | Autora: Juno Dawson | Editora: DarksideBooks | Ano: 2023 | Gênero: Fantasia urbana | Tradução: Dandara Palankof | Classificação indicativa: +16
Eu não estava preparada para o quão animada esse livro me deixou. Ele tem momentos de tensão, conforto e críticas sociais importantes dentro de um cenário que podemos muito bem espelhar para nosso mundo atual. Achei diferente a estrutura de um universo de bruxas dentro de nosso mundo, e isso me fez lembrar que fazia tempo que não lia nenhuma fantasia urbana.
Realeza das Bruxas é o primeiro volume de uma trilogia, conta com vários protagonistas, mas foca principalmente em Niamh. Inicialmente, o prólogo mostra cinco amigas ainda crianças, mas a mudança para o primeiro capítulo já denota que este grupo, conforme foram crescendo, seguiram rumos diferentes. Algumas amigas se falam, enquanto outras mantém contato mínimo. Vai ficando nítido que esse distanciamento se deu por vários fatores, divergências de opiniões, modos de vidas diferentes, e algo que ajuda nesse distanciamento, foram os traumas a serem superados devido à guerra civil ocorrida anos atrás.
O livro é ambientado na Inglaterra, especialmente no interior. Apesar do ponto em comum conosco, a comunidade é composta por bruxas. Há um Coven Real de Sua Majestade, da qual Helena, uma das amigas do início, é a autoridade máxima. Mas existe também aquelas que não se sentem representadas pelo Coven, como Leonie, uma mulher negra e lésbica que criou a Diáspora, reunindo bruxas que se sentem do mesmo modo em relação ao Coven, para acolhê-las. A alocação, tal qual o Coven Real, para homens com magia também é diferente, chamado de Cabala, dividindo instantaneamente essas pessoas com base no sexo.
Um coven é uma irmandade, Holly. Em qualquer coven pode haver mulheres que você não escolheria como amigas, mas nossos laços são mais profundos do que isso. No juramento, nós prometemos que nosso elo é eterno e que ele supera nossas relações humanas. O coven é soberano.
O livro tem um cenário de reconstrução depois da guerra, mas a ideia é de que o governo das bruxas está estável, gerenciado por Helena. Ela é uma mulher bastante determinada, tem perspicácia no que pude notar em suas linhas de narrativa, e parece estar sempre disposta a lutar por seu lugar de direito. É interessante que mesmo tendo um grupo mágico dentro da nossa própria sociedade, com o passar das páginas, se torna muito simples de entender, pois podemos espelhar nossa estrutura de sociedade, criando uma afinidade ainda maior com a história.
Após essa apresentação inicial dos personagens e cenário, conhecemos o objetivo principal com que o livro irá trabalhar. Uma ameaça é anunciada como sendo pior que a guerra recente, e será comandada por uma criança intitulada maculada, como foi profetizada pelos oráculos. Niamh, sendo sensitiva, visita a criança em questão e decide levá-la para casa em busca de entendê-la da melhor forma. As perguntas seguintes que me fiz seguiram o mesmo raciocínio que Niamh: como uma criança irá desencadear tanta destruição? Haverá um gatilho? Como tanta responsabilidade pôde ser colocada em cima de uma vida inocente? E, principalmente: Como pode o primeiro instinto das autoridades ser de acabar com uma vida, até então inocente, e não de entendê-la e ajudá-la?
Foi então que percebi que iria passar bastante raiva com alguns personagens. O incrível é que esses sentimentos são formulados com base nos acontecimentos, e são essas ocorrências que vão definir os passos seguintes dos personagens, transformando suas decisões em lados que podem ser opostos, e opiniões que são ditas como ideais acima do bem maior, embora sejam apenas discursos de ódio.
A guerra não era uma desculpa. Nunca.
A autora uniu uma trama que envolve uma estrutura política das bruxas enfrentando contextos bastante atuais da nossa realidade. É possível identificar como o discurso de ódio pode ser envolto em minúcias que gera uma revolta na comunidade, mas que compromete vidas inocentes a troco de uma opinião negativa pessoal. Temos, então, uma pauta principal, que envolve uma pessoa trans. Esse desenvolvimento é lindo, mas adianto que causa revolta pelos demais lados. Me apeguei de verdade a história, mesmo que seja um cenário com elementos mágicos, as lutas são importantíssimas, e se tudo fosse como deveria, conseguiríamos ver que o ambiente que a autora criou seria confortável para aqueles que precisam de refúgio. Para isso, os personagens foram maravilhosos em acolher quem precisava de ajuda.
O protagonismo é dividido entre as amigas apresentadas inicialmente, e nessa mistura de narrativa temos vários lados de uma crescente disputa. Achei que este livro desenvolve bem os primeiros passos de um grande acontecimento que está por vir. O passado, que é importante para entender a história, vem à tona em breves lembranças, o que ajuda a compreender o motivo dos personagens estarem como estão atualmente. Por fim, um dos sentimentos finais que me restou em relação ao livro, foi o choque. Depois da narrativa ter se desenvolvido como aconteceu, eu não esperava que acabasse daquela maneira, e as respostas para esse desfecho só poderão ser devidamente respondidas na sequência, mas posso adiantar que é algo que pode trazer significados que farão a diferença no decorrer dos livros.
Realeza das Bruxas me entregou mais do que imaginava. Também adorei conhecer mais sobre a autora, que é trans, e me dispus a pesquisar sobre ela e ver que tinha mais títulos publicados, como "Este livro é gay: E hétero, e bi, e trans...", assim como a sequência deste livro.
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